
Tesouros do Deserto Gelado: Cogumelos Selvagens e a Riqueza Nutricional Escondida na Índia
Onde quase nada floresce, os fungos crescem
Em regiões onde as temperaturas negativas são regra, o solo é seco e o oxigênio rarefeito, a maioria das formas de vida vegetais desaparece. Mas no deserto frio do Himalaia, especialmente na região de Ladakh, os cogumelos selvagens persistem,, e surpreendem.
Esses fungos, coletados em altitudes extremas por comunidades locais, como os nômades Changpa, oferecem muito mais do que alimento: eles representam uma chave para segurança nutricional, renda alternativa e conservação da biodiversidade.
A riqueza nutricional invisível
Pesquisas recentes realizadas por universidades indianas e centros de botânica do Himalaia revelaram que cogumelos silvestres como Morchella esculenta (morchela), Agaricus campestris e algumas espécies do gênero Coprinus crescem em solos altamente mineralizados e acumulam compostos bioativos raros.
Esses fungos apresentam:
- Alta concentração de proteínas (até 35% do peso seco)
- Vitaminas do complexo B (B2, B3, B5)
- Compostos fenólicos com propriedades antioxidantes
- Potencial adaptogênico para ambientes de baixa pressão e estresse oxidativo
Um estudo publicado no Journal of Food Science and Technology também apontou que os cogumelos colhidos em regiões de deserto frio possuem teores superiores de selênio e zinco em comparação com espécies cultivadas em regiões temperadas.
Sustento e saber tradicional
A coleta de cogumelos é feita há gerações por mulheres e crianças em aldeias remotas, onde o acesso a mercados e tecnologias modernas é limitado. Esses fungos são vendidos secos em mercados locais ou levados até grandes cidades da Índia, onde alcançam preços elevados por sua raridade e valor nutricional.
No entanto, a ausência de políticas públicas, a falta de reconhecimento do conhecimento tradicional e a escassez de estratégias de conservação têm colocado essas práticas em risco. A perda do saber local pode levar não apenas à extinção desses microrganismos, mas também a um colapso cultural.
Do Himalaia para o mundo: e se fosse aqui?
No Brasil, convivemos com biomas igualmente ricos e subvalorizados — da Caatinga ao Cerrado. O estudo dos fungos selvagens em regiões áridas e semiáridas pode ser a chave para promover segurança alimentar, recuperar solos degradados e fortalecer economias locais.
Assim como em Ladakh, nossas comunidades tradicionais têm saberes preciosos sobre a terra, os ciclos e os alimentos. Ao aprender com o que acontece do outro lado do mundo, somos convidados a valorizar aquilo que brota do nosso próprio chão.
Se você deseja explorar o mundo fascinante dos fungos e suas aplicações incríveis com responsabilidade e sustentabilidade, conheça a nossa plataforma Academia Fungicultura, encontre seu caminho e vamos juntos nessa jornada pelo bem-estar de todos.
Sobre a autora:

Imagem:
- Roger Phillips
Referências abreviadas:
- Singh et al., Journal of Food Science and Technology, 2020.
- Kaur & Sharma, Indian Journal of Traditional Knowledge, 2018.
- Giri & Meena, Biodiversity and Conservation, 2021.