
Fungos Transformam Resíduos Lácteos em Alimentos Sustentáveis
O soro de leite, subproduto da fabricação de queijos, é um dos maiores desafios da indústria alimentícia: em excesso, ele representa um problema ambiental sério. Mas dentro desse resíduo há um potencial escondido — que agora está sendo liberado graças à ação de fungos comestíveis.
Pesquisas recentes indicam que espécies como Ganoderma lucidum e Aspergillus oryzae podem ser cultivadas diretamente em soro, utilizando os nutrientes residuais para formar uma biomassa rica em proteínas, fibras e compostos bioativos. É o encontro da economia circular com a biotecnologia fúngica.
Da fermentação à proteína: como funciona essa transformação
Ao serem cultivados em substratos líquidos derivados do soro de leite, os fungos metabolizam a lactose e outros açúcares, transformando-os em micélio. Esse micélio, por sua vez, pode ser desidratado, moído e usado como base para alimentos fermentados, suplementos ou ingredientes funcionais.
Estudos demonstraram que, em condições otimizadas, o rendimento pode chegar a 5 g/L de biomassa com 20 a 22% de conteúdo proteico, tornando-se comparável a fontes convencionais como carne de frango e ovos (Kaya et al., 2024). Essa abordagem permite ainda a produção de compostos antioxidantes e beta-glucanas.
Uma revolução silenciosa, mas urgente
O uso de fungos para reaproveitar resíduos alimentares não é apenas uma solução eficiente — é uma necessidade urgente. Mais de 50% do soro de leite produzido no mundo ainda é descartado, causando sobrecarga nos sistemas de tratamento de efluentes.
Transformar esse resíduo em alimento funcional não só reduz a pressão ambiental como também cria uma cadeia alimentar mais justa, acessível e local. É uma proposta viável para pequenos e médios produtores, inclusive em regiões rurais onde o acesso a tecnologias mais avançadas é limitado.
O que ainda precisa ser feito?
Embora os resultados sejam promissores, há desafios a superar:
- Padronização dos processos de fermentação para diferentes espécies;
- Garantia de inocuidade e segurança alimentar;
- Desenvolvimento de produtos finais com boa aceitação sensorial e valor agregado;
- Escalonamento técnico e econômico das biorrefinarias.
O que temos em mãos, no entanto, é uma oportunidade única de criar soluções alimentares de baixo impacto com base em conhecimentos acessíveis — e fungos como aliados.
Se você se interessa por aplicações inovadoras de micélio, biomateriais ou bioremediação, junte-se à nossa comunidade. A Academia Fungicultura está aberta para quem deseja fazer parte da nova economia viva.
Sobre a autora:

Referência científica abreviada:
- Kaya et al., 2024. Bioconversion of cheese whey using fungal fermentation – Front. Sustain. Food Syst.