Imagem de destaque para O Enigma Fúngico: Como os Cogumelos Podem Revolucionar a Luta Contra o Câncer

O Enigma Fúngico: Como os Cogumelos Podem Revolucionar a Luta Contra o Câncer

Uma nova perspectiva sobre o papel dos fungos na luta contra o câncer

Quando pesquisadores começaram a observar de perto as células cancerígenas há alguns anos, encontraram algo inesperado: fungos vivendo dentro dos próprios tumores. Essa descoberta, à primeira vista estranha, despertou uma nova linha de investigação que pode transformar a forma como diagnosticamos e tratamos o câncer.

Em casos de câncer gastrointestinal, por exemplo, a presença de leveduras do gênero Candida tem sido associada a piores taxas de sobrevivência. Já em câncer de pulmão e mama, outras espécies como Blastomyces e Malassezia apareceram repetidamente ligadas ao avanço da doença. Mas o mistério permanece: será que os fungos contribuem para o crescimento do tumor ou estão apenas aproveitando um ambiente comprometido?

Essa nova fronteira da ciência recebe o nome de micobioma – o conjunto de fungos que vivem dentro e sobre o nosso corpo. Embora menos estudado que o microbioma (formado por bactérias, vírus e protozoários), o micobioma tem mostrado um papel vital na nossa saúde — e também nas nossas doenças.

Cogumelos Medicinais: Tradição Ancestral, Promessa Moderna

Enquanto a ciência busca compreender esses fungos internos, o mundo já movimenta bilhões com cogumelos conhecidos por seus efeitos terapêuticos. Estima-se que o mercado de cogumelos medicinais ultrapasse os 60 bilhões de dólares até 2032. Espécies como o reishi e o maitake são estudadas por sua capacidade de fortalecer o sistema imunológico e, potencialmente, inibir o crescimento de tumores.

Apesar do entusiasmo, poucos cogumelos foram realmente testados em ensaios clínicos. Um levantamento recente identificou 32 espécies promissoras, mas menos da metade passou por avaliações científicas rigorosas com humanos. Entre os compostos bioativos mais relevantes estão os polissacarídeos (como as beta-glucanas) e os triterpenoides, capazes de estimular a resposta imunológica e agir contra células tumorais.

Walter Luyten, pesquisador da Universidade KU Leuven (Bélgica), afirma que os cogumelos “são um dos maiores presentes da natureza para o desenvolvimento de novos medicamentos”. Só falta compreendê-los melhor.

O Micobioma e o Equilíbrio da Saúde

Você já ouviu falar que existe um tipo de levedura no seu intestino que ajuda na digestão? É verdade. Mas o equilíbrio é delicado: quando fungos como a Candida se multiplicam em excesso, podem causar desequilíbrios chamados disbioses, associados a problemas sérios, como o câncer colorretal.

Deepak Saxena, microbiologista da Universidade de Nova York, descobriu fungos vivendo dentro de tumores pancreáticos — algo que parecia improvável. Ele suspeita que o próprio câncer cria um ambiente propício para esses microrganismos, talvez por suprimir o sistema imunológico. Em testes com camundongos, antifúngicos ajudaram a conter o avanço do tumor, mas os cientistas alertam: resultados em animais nem sempre se traduzem para humanos.

Cogumelos Não Matam Câncer — Eles Educam Seu Corpo a Lutar

É importante entender: cogumelos como o cauda de peru não são “assassinos de câncer”. Eles ensinam o corpo a lutar. Através da estimulação de citocinas — moléculas que organizam a defesa do corpo — esses cogumelos reforçam a resposta imunológica e aumentam a eficácia de tratamentos como a quimioterapia. Mas ainda não se sabe qual a dose ideal, nem se eles funcionam isoladamente.

Atualmente, nenhum medicamento feito à base de cogumelos foi aprovado pela FDA (agência reguladora dos EUA), o que significa que todo suplemento vendido no mercado tem um aviso implícito: use por sua conta e risco.

A Busca Pela Cura Também Passa Pela Floresta

No Festival de Fungos da Península Olímpica, nos EUA, um grupo de curiosos segue o fitoterapeuta Robert Rogers floresta adentro. Ele aponta para um fungo com faixas coloridas crescendo sobre um tronco apodrecido: a famosa “cauda de peru”. Rogers, autor de The Fungal Pharmacy, é um dos muitos estudiosos autodidatas que defendem o uso de cogumelos como apoio à saúde, não como cura milagrosa, mas como parte de uma rotina preventiva.

E mesmo os cogumelos mais comuns do supermercado têm fitonutrientes benéficos. A diferença é que, ao mergulharmos no mundo dos fungos medicinais, estamos tocando numa promessa de futuro.

Estamos Diante do Próximo Penicilina? No início do século 20, um mofo acidental num laboratório resultou na descoberta da penicilina — um antibiótico revolucionário. Agora, ao abrirmos os olhos para os fungos, talvez estejamos diante de outra revolução silenciosa.

Pesquisas recentes já identificaram ao menos 20 tipos de fungos que podem, no futuro, ajudar a diferenciar pacientes com câncer daqueles sem a doença, melhorando diagnósticos e tratamentos precoces.

A pergunta que fica é: e se os cogumelos forem parte da resposta que a medicina moderna tanto procura?


Sobre a autora:

Cultivo de Cogumelos
Renata Paccioni | Fundadora da Academia Fungicultura, a primeira plataforma nacional de ensino em biotecnologia fúngica. A AgriShow a reconhece como especialista pioneira ao cultivar cogumelos em 30°C, desafiando padrões técnicos estabelecidos. A ANPC a nomeou Diretora Administrativa, coordenando iniciativas que moldaram o setor brasileiro. Renata formou mais de 500 profissionais através de suas metodologias próprias e é reconhecida como uma das principais autoridades em fungicultura do país. A FATEC e UMC a graduaram em Gestão do Agronegócio e Ambiental, a FGV lhe conferiu Pós-Graduação em Administração Executiva, e a Embrapa certificou sua especialização técnica em Fungicultura. Renata é pioneira na introdução de tecnologias de biomateriais com micélio no Brasil e produz conteúdo especializado há mais de 20 anos, aplicando IA e automação para potencializar negócios sustentáveis.

Fonte de inspiração:

  • National Geographic