
Descubra os Fungos que Brilham no Escuro na Floresta Tropical Esquecida do Brasil
Conheça a Mata Atlântica, um tesouro escondido de biodiversidade ameaçado
Menos de três horas de carro da cidade de São Paulo, encontra-se uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo, e não é a Amazônia.
Margeando a costa sudeste do nosso país, a Mata Atlântica é um dos oito “pontos quentes” mundiais de biodiversidade, abrigando flora e fauna encontradas em nenhum outro lugar da Terra. No entanto, mais de 80% da cobertura arbórea deste Patrimônio Mundial foi perdida devido às mudanças climáticas e outras atividades humanas, como agricultura e urbanização, enquanto a Amazônia perdeu 19%. Hoje, uma pequena parte da Mata Atlântica permanece preservada.
Novas pesquisas mostram que a floresta oferece uma oportunidade única para a restauração da paisagem, o que protegeria espécies ameaçadas e recursos hídricos valiosos. Além disso, a restauração da floresta tornaria a região - e o planeta como um todo - mais resiliente às mudanças climáticas.
O ecoturismo emergente está ajudando a destacar as maravilhas naturais da floresta, incluindo os fungos bioluminescentes e centenas de cavernas. Ao mesmo tempo, esses esforços estão impulsionando a economia rural do país e melhorando a qualidade de vida dos mais de 145 milhões de brasileiros, incluindo comunidades indígenas, que chamam o bioma de lar. Veja como você pode explorar os remanescentes dessa antiga floresta.
Cogumelos luminosos
A Mata Atlântica um dia compreendia 133 milhões de hectares em todo o Brasil e em partes do Paraguai, Argentina e Uruguai. Hoje, fragmentos desconexos pontilham o Brasil, mas os viajantes podem encontrar uma biodiversidade rivalizando com a Amazônia no Vale do Ribeira, a maior área intacta da floresta. Um destaque nessa zona exuberante é a maior concentração mundial de cogumelos brilhantes.
O professor associado da Universidade de São Paulo, Cassius Stevani, lidera visitantes em caçadas noturnas por fungos neon na Reserva IPBio Betary, uma extensão de 60 hectares de floresta tropical dedicada à conservação, pesquisa e turismo sustentável.
O objetivo principal dessas caminhadas, oferecidas mensalmente exceto em agosto e setembro, é ensinar os viajantes sobre a pesquisa da IPBio. Os passeios e o futuro Museu de Bioluminescência da instalação de pesquisa também contribuem financiando estudos científicos e conservação na reserva.
Das cerca de cem espécies de cogumelos bioluminescentes identificadas ao redor do mundo, 27 foram encontradas na reserva. “Enquanto fungos bioluminescentes podem ser encontrados em vários lugares do mundo, o Vale do Ribeira é o único local onde podemos encontrar tal diversidade de espécies diferentes em uma área relativamente pequena”, diz Stevani, o cientista responsável por chamar a atenção para a bioluminescência de fungos há décadas. “Além disso, sabemos especificamente quando e onde encontrá-los.”
Organismos menos estudados que emitem luz visível fria, os cogumelos bioluminescentes eram um mistério por muito tempo. Isso mudou em 2015, quando Stevani e uma equipe de pesquisadores da IPBio descobriram por que eles brilham: para atrair insetos e aranhas que ajudam a espalhar seus esporos pela floresta.
Caminhar por uma floresta úmida no escuro pode ser uma aventura reveladora para os viajantes. Mas experiências como essa também são uma forma importante de preservar a floresta, que abriga 72% da população do Brasil, incluindo comunidades quilombolas, assentamentos rurais fundados por africanos escravizados.
“Cinco séculos de intensa exploração madeireira, agricultura e crescimento urbano em cidades como São Paulo degradaram uma das áreas naturais mais ricas do planeta em fragmentos. O turismo sustentável oferece uma alternativa econômica no Vale do Ribeira, uma das áreas mais pobres e subdesenvolvidas de São Paulo, o estado mais rico do Brasil.
“O turismo desperta nas pessoas a importância de preservar a Mata Atlântica, sua beleza e riqueza de organismos”, acrescenta Stevani. “Quanto mais as pessoas estão conscientes, maior é a força na luta pela preservação da floresta.”
A Mata Atlântica é mais do que um bioma — é uma memória viva do Brasil profundo, onde cada fragmento preservado carrega não só espécies únicas, mas também histórias, saberes e possibilidades de futuro. Diante de séculos de devastação, resistem os micélios que brilham no escuro, as árvores que ainda sussurram ao vento, e as comunidades que aprenderam a viver em harmonia com a floresta. Ao escolher visitá-la com respeito, apoiá-la com consciência e falar sobre ela com paixão, tornamo-nos parte de sua restauração. Que o brilho dos cogumelos sob a copa úmida nos lembre que ainda há tempo — e beleza — para regenerar o que um dia deixamos para trás.
Sobre a autora:

Fonte de inspiração:
- National Geographic